Não, tu não sabes quem sou. Não sabes do encantamento que sinto ao amanhecer sentindo perfume de café passado na hora; não sabes das memórias que uma flor me traz; não sabes todas as visões de mundo que já tive até chegar aqui; não sabes da dor que eu sinto ao passar uma passarela; não sabes do quanto de pânico cabe no meu peito ao ver uma barata; não sabes do asco que tenho da mentira; não reconheces a minha fome por ler livros quando ela surge. Não sabes perceber quando tudo que eu quero é um silêncio de morte pra nascer de novo. Tu não sabes os cabelos que eu já tive, os Deuses que já acreditei e deixei de acreditar, não estavas comigo quando eu achei que ia morrer ou ficar completamente presa dentro da minha cabeça pra sempre. Não vistes os nãos que já precisei dizer, os vínculos que quebrei silenciosamente, as perdas que eu tive em vida. Tu não sabes das coisas que eu ainda não realizei, mas quero de todo o coração. Não sabes das minhas manias mais simples como odiar ser pega de surpresa; não conheces os meus defeitos físicos de perto e muito menos os intelectuais. Eu não te deixei acessar meu mundo íntimo e nem vou. Tu não me conheces e nem vai. Eu posso ter a imagem que for na tua cabeça por alguma parcela da minha vida que tu conheças, mas isso não é nada. E eu amo que tu não possa entrar, porque aqui dentro de mim, eu sou livre.

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