Preciosa Vida

A insatisfação na vida pessoal, seja em qual âmbito for – ciclo social, familiar, de relacionamento – procede de uma comparação. Ou comparamo-nos com outras pessoas, julgando que suas vidas são mais satisfatórias e nós, portanto, seríamos mais felizes se estivéssemos em igual situação, ou – e este é mais comum – temos uma expectativa criada a muito tempo sobre as coisas que nos deixariam satisfeitos caso vivêssemos e, com o tempo, realizando nossas expectativas, percebemos que a vida não sai exatamente da maneira que planejamos, o que gera frustração. Ainda tem uma terceira forma de insatisfação, que é quando realizamos as coisas exatamente do jeito que planejamos e temos tudo aquilo que sempre sonhamos, mas essas coisas, que julgávamos que nos fariam felizes, nos causam apenas um profundo tédio, porque daí não advém nenhuma mágica felicidade.
E o remédio para o incômodo com a realidade atual consiste em nos livrarmos das expectativas detalhadas de futuro para, então, voltarmos a abrir os olhos para a realidade que vivemos. Quando novamente abrimos esse espaço, gradativamente voltamos a enxergar as pequenas belezas da nossa existência e podemos nos alegrar com detalhes que estavam passando despercebidos no cotidiano.
Um dos elementos que mais nos afastam de dizermos sim para a nossa realidade é a rede social. Essa atual companheira da sociedade é o mestre em criar um filme mental paralelo, que não condiz em tudo com a vivência real e que justamente por não condizer, gera insatisfação pelas pequenas faltas.
Hoje, perambulando um pouquinho pelas redes, é possível criar uma lista completa do que é um relacionamento ideal, quais coisas demonstram o interesse dos outros na gente, e quais coisas são sinais de uma pessoa que não quer nada com nada. Temos uma lista do que é o emprego ideal, de quais são as funções sociais inadmissíveis e, assim, não precisamos nos importar tanto com conhecer realmente uma pessoa, entender ela para ver se temos algum ponto de contato; É possível, com um simples checklist ver se aquela pessoa “presta” ou não para ti. Se aquele emprego é ou não o ideal, sem vivê-lo, entre outras coisas.
Mas apesar de parecer uma ótima ideia para nos poupar tempo, gera um profundo oco em nosso espírito, porque mesmo sendo fácil executar as tarefas e escolher as pessoas da nossa vida com tudo previamente planejado e moldado conforme vimos no Pinterest ou no instagram, a cada nova frase de efeito sem profunda meditação, nós nos distanciamos um pouco mais da realidade e colocamos mais um tijolo no muro da insatisfação.
Isso é o que acontece quando não nos desligamos das nossas expectativas, alimentada mais profundamente hoje pelas telas. E os danos poderão ser irreversíveis se não nos dermos conta desse vício em dopamina gerado por uma vida paralela e irreal. Portanto, relaxe seus ombros agora, sinta o seu corpo, como ele está, como ele se move. Anote em um papel, não no seu celular ou computador, mas com uma caneta e um lápis, coisas que você agradece por terem acontecido hoje. Você verá que será estranho na primeira vez, mas logo seus olhos começarão a ter mais atenção às coisas boas que acontecem com você (e acredite, por mais ruim que esteja, sempre tem algo bom que você simplesmente e injustamente não está vendo). Logo, sua vida vai voltar a ser sua, seus gostos vão voltar a ser seus, você poderá livremente ter sonhos de novo, porque não é uma vida de cera, mas um coração pulsando, uma gana de ranger os dentes. Será a sua vida.
Preciosa Vida.


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